Capítulo 44

Assim que chegamos ao Brasil, fomos direto para o nosso apartamento, que era incrivelmente lindo e enorme.

- É mais bonito que nas fotos!

- Muito mais, amiga!

- Acho que vou ficar por aqui com vocês! – Luan se espreguiçou e se jogou no sofá rindo.

- Sério?

- Claro, muié. Posso?

- Pode, com uma condição. – Helen começou.

Revirei os olhos, antes de me sentar ao seu lado. – A minha foto que o senhor prometeu! – Ela colocou as mãos na cintura. – E eu não quero segurar vela, porque não mereço. – Arregalei os olhos e fiquei vermelha.

Luan também encarou o chão sem graça e se saísse raios dos meus olhos, com certeza aquela “meia” loirinha já estava morta. Ela gargalhava.

- Pode ficar, Luan. Até que dia? – Eu mudei o assunto.

- Vamos amanhã pra Campo Grande? Você não prometeu a vovó que ia pra lá, assim que chegasse?

- Tinha esquecido!

- Então...

- Vamos sim. Topa, amiga?

- Claro que sim! Ainda pergunta? Quero conhecer esse Brasil todo, só esse Rio de Janeiro já é maravilhoso, imagina o resto! – Rimos.

- Ótimo! Amanhã vamos pra lá.

- Vou comprar nossas passagens...

- Vamos no meu avião, é melhor. – Luan disse.

- No seu avião particular? Amei!

- (risos) Para com isso, amiga. O Luan vai pensar que você é interesseira.

- Sou um pouco mesmo...Meu pai sempre disse que ia comprar um avião particular, mas nunca comprou.

- Ai, Helen...Vou tomar um banho. Depois faço alguma coisa pra comermos, já vi que o tio mandou encher a geladeira. – E assim segui para o banheiro.

Depois do meu banho, coloquei um pijama. Era um pouco tarde.

Fui para sala, depois de colocar uma lasanha no microondas e Luan, brincava com Helen, de um jogo que ela tinha, que eu já estava cansada de jogar e ela sempre me perturbava para que jogássemos todos os dias.

- Achou um igual você, não é? – Me sentei.

- O Luan gostou do jogo, só você que não! – Ela me deu língua.

- Claro, Luan é retardado igual você! – Luan me olhou de um jeito engraçado, que me fez ri. – E também, jogar isso todos os dias, ninguém merece!

Depois de tudo pronto, comemos em meio a risadas. Estava tudo tão perfeito.

Nos ajeitamos em nossos devidos quartos e depois de acomodar Luan no quarto de hóspedes, me deitei para dormir.

Peguei no sono muito rápido, só que os pesadelos não paravam de me perseguir.

“ Dona Estela ficou extremamente assustada, quando me viu jogada no chão, em meio a uma lagoa de sangue. Ela ficou desesperada.

Só deu tempo de ouvir seus gritos e depois, eu apaguei.

Acordei em um hospital, já chorando e já sentindo minha barriga mais leve.

Logo a porta do quarto se abriu e entrou um médico, acompanhado dos meus pais, e dona Estela.

- O que aconteceu?

- Você caiu da escada. Não lembra? – A senhora falava calma.

- Disso eu lembro. Como chegaram aqui tão rápido? – Perguntei para minha mãe.

- Você está dormindo desde ontem. – Arregalei os olhos.

- Eles te deram um sedativo, estava muito agitada. – A senhora acariciava a minha mão. Meu pai permanecia sério.

- O que aconteceu com meu filho? – Perguntei em um sussurro.

Encarei minha barriga e fechei os olhos, esperando a resposta.

- Você perdeu, minha filha. Sinto muito! – As lágrimas começaram a rolar pelos meus olhos.

- Eu confesso que já esperava por isso! – Suspirei, enquanto dona Estela secava minhas lágrimas.

- Quer saber , Isabella? Foi melhor assim. Agora você pode seguir sua vida direito, recomeçar. Deus viu que era o melhor pra você. – Encarei meu pai sem acreditar.

- Eu queria meu filho. Mesmo vocês sendo contra, mesmo sendo só uma adolescente, eu queria ele. Não agradeça pela morte de uma criança, pai.

- Ele nem tinha se formado direito, Isabella.

- Tinha sim! Eu estava de oito meses, ele nasceria em menos de um mês. – As lágrimas voltaram a escorrer de meus olhos e não pararam mais.

Comecei a soluçar por conta do choro e minha barriga começou a doer.

Coloquei a mão onde doía e senti um corte. Estava com pontos.

Até que o médico entrou novamente no quarto e mandou que uma enfermeira me aplicasse um sedativo. Fui dormir em meio às lágrimas, ainda soluçando.”

Acordei e passei a mão pela testa, completamente suada.

Por que esses pesadelos tinham que vim toda vez que eu dormisse?

Já não bastava tudo que eu tinha vivido naquela época, que foi a pior da minha vida. Eu pensei que entraria em depressão, por conta do bebê perdido, eu não tinha mais forças pra nada, cheguei até pensar em suicídio.

As lágrimas que caiam de meus olhos, molhavam meu pescoço, enquanto eu tentava abafar o choro com a mão.

Escutei a porta do quarto se abrir e a luz acender. Luan me olhava sem entender.

Se aproximou rápido, quando viu meu estado.

- Você...Por que tá chorando? – Ele se sentou na minha frente.

- Eu...- Não sabia o que falar. Eu queria lhe contar tudo, toda história, mas tinha medo.- Tive um pesadelo. – Consegui falar por fim.

Ele em um gesto carinhoso, envolveu minha cabeça com as mãos e a colocou em seu peito.

Senti seu perfume bom, enquanto acariciava o meu cabelo.

- Quer me contar o que foi?

- Não quero lembrar! – Eu respondi rápido.

- Vai ficar tudo bem! – Ele não insistiu e sussurrou.

Dormimos abraçados naquela noite. Que no final, terminou perfeita.

Ele me abraçava por trás, enquanto seus braços estavam em volta da minha cintura e os meus, por cima dos seus.

Fui dormir com um sorrisinho de canto.

Como eu esperava por aquele momento.