( 7 anos depois )
Como podem imaginar muita
coisa aconteceu em sete anos, mas por incrível que pareça, só coisa boa. Eu e
Luan brigávamos, claro, mas sempre as pazes eram feitas.
Luan viajava naquele dia e eu
fui buscar meus filhos no colégio, os três estudavam na parte da manhã.
Nathalia com 16 anos, Luna com 10 e Breno com 8. Brigavam bem também, mas nada
que um castigo não resolvia e logo já estavam grudados de novo. Não se
separavam.
O sinal da escola ainda não
tinha batido, porém, resolvi entrar e pegar meus filhos do mesmo jeito,
faltavam poucos minutos e Luan chegaria em algumas horas.
Passei pelo pátio e ouvi
vozes exaltadas, logo reconheci a de Nathalia e andei mais rápido até onde ela
e uma outra menina discutiam.
- Sua bastarda! – A menina
gritava com ela.
- Você tá louca?
- Minha mãe me disse que você
foi adotada! Que te pegaram pequena! – Ela ria.
- Idiota! – Nathalia sabia
sua história, mas não desmentia. – Só porque eu to com o garoto que você gosta?
Ele nunca vai te querer! – E antes que a menina fosse pra cima dela, corri pra
mais perto delas e quando olhei para trás o porteiro também já estava indo até
nós.
- O que está acontecendo
aqui? – Eu perguntei.
Nathalia chorou me abraçando
e eu segui com ela pra secretaria, junto com o porteiro e a outra menina.
Sabia que chorava de raiva e
com medo de eu e Luan brigarmos com ela por aquilo.
A diretora brigou com elas e
advertiu as duas. Eu não disse nada, era justo.
- Tá vendo o que você fez sua
bastarda? – A garota ainda perturbava, assim que saímos da direção.
- Olha, aqui! Eu não vou
discuti com você que é uma criança, da idade da minha filha, mas saiba que você
está completamente enganada. Nathalia é nossa filha de sangue e sua mãe não te
contou a história dela direito! E nem precisa, mesmo se não fosse, vocês não
tem nada com a nossa vida! - Puxei Nathalia
para longe daquela víbora.
- Esquece isso, filha! –
Sequei suas lágrimas.
- Está tudo bem, mamãe! – Ela
me abraçou e eu beijei sua cabeça. – Vamos pegar Luna e Breno? – Deu um meio
sorriso e eu assenti.
Voltamos a andar, mas ela me
parou. – Não diz nada pro pai? – Me olhou com receio.
- Não vou dizer, até porque
ele vai querer vir aqui reclamar do que essa garota disse!- Sorri pra ela. –
Pode ficar tranqüila! – Seguimos em frente até as salas dos outros pequenos.
Fomos para casa e no carro
era aquela falação, todos querendo trocar o cd, discutiam e eu ria, sabia que
aquele tipo de briguinha era até saudável entre irmãos.
Para nossa surpresa, assim
que chegamos Luan já via televisão e se levantou correndo assim que nos viu.
Abraçou e beijou muito seus
filhos primeiro e logo depois, eu.
- Pai! – Breno o chamou
enquanto andávamos até a cozinha.
- Cala a boca, Breno! –
Nathalia gritou e eu me assustei.
- (risos) Sabe o que é? A Nathalia
tá namorando um menino idiota! – Ele disse rápido e deu língua pra irmã, antes
de correr para trás de mim.
- Namorando? – Luan a olhou
com uma sobrancelha erguida e ela suspirou.
- Breno linguarudo! – Ela
continuava irritada com o irmão.
- Nathalia, quero que saiba que
se for pra namorar me fala, eu não quero você pelos cantos. – Luan continuou.
- Não estou pelos cantos,
papai.
- Eu acho bom! – Nos
sentamos. – Saiba que eu vou aceitar, até porque você já tem 16 anos, mesmo eu
achando muito nova pra isso. – Ele riu e eu o acompanhei.
- Sério que o senhor ia
deixar? Quer dizer, caso eu esteja... – Ela se enrolou e eu ri novamente.
- Claro que sim, filha! Eu
pareço tão carrasco assim? – Ele fez sua careta linda e ela gargalhou.
- Claro que não, papai! – Saiu
de seu lugar e se sentou no colo de Luan, o enchendo de beijos, do jeito que
gostava.
Mas não demorou para os
outros começarem com o ciúmes e todos se juntarem em cima da gente, enquanto
Nathalia provocava dizendo ser a mais velha e a mais amada de todos.
- (risos) Não sei quem é mais
criança, filha. Você ou seus irmãos? – Ela riu pra mim e beijou meu rosto.
No outro dia, acordei cedo
como sempre, mas estava de folga no hospital, então resolvi preparar um café da
manhã bem caprichado para todos.
- Mãe! – Olhei para trás e
Nathalia me olhava com cara de sono.
- Caiu da cama foi?
- Eu e os pirralhos, mas eles
foram deitar com o papai e capotaram de novo! – Ri.
- Vamos tomar café nos duas
então. – Ela assentiu e nos sentamos.
- Queria conversar uma coisa
com a senhora...
- O que foi?
- Eu termino o colégio ano
que vem e já sei a carreira que quero seguir.
- O que?
- Eu quero ser médica, mamãe.
Uma das melhores, como a senhora! – Sorri com aquilo e a abracei de lado. – E
mais! – Ela me olhou. – Quero estudar fora do país, pra já vir pro Brasil
sabendo das novas coisas lá de fora. Quero ser muito boa!
- Se quer assim, meu amor...
- Você acha que meu pai vai
concordar em eu ir estudar fora? – Ela fez careta.
- Não vai gostar da idéia,
mas vai te apoiar! Sabe como é a menininha dele, não é? – Rimos.
Naquele mesmo dia,
conversamos com Luan sobre o que minha filha havia me dito e como eu imaginei,
ele não gostou da filhinha dele ir morar fora sozinha, tão nova, mas apoiou sua
idéia.
( ... )
*
Depois de dois anos,
estávamos levando Nathalia até o aeroporto, que ainda mantinha sua firme idéia
de ser médica, o que nos dava orgulho.
Ela chorou, eu chorei,
Isabella chorou e até os pequenos, mas infelizmente tinha chegado a hora dela
partir.
Voltamos para casa e mesmo um
pouco tristes com a falta dela, resolvi me diverti com as crianças. Eles também
me diziam que mesmo brigando e implicando muito com eles, sentiriam falta da
irmã mais velha, nos fazendo rir.
(...)
Mais dois anos se passaram e
dessa vez, fomos buscar Nathalia no aeroporto, não pra ficar, mas sim para
passar as férias e o Natal conosco.
A vida dela estava tão
agitada em Nova York que nem eu acreditava. Tinha conhecido um rapaz, namoravam
a um ano e meio e já pensavam até em casar.
Eu ficava espantado com tudo
aquilo, claro, ela só tinha 20 anos, mas estava feliz e eu tinha que aceitar.
Levamos um susto quando vimos
que ela descia do avião junto de seu namorado, com um sorriso gigante no rosto
e mais ainda quando nos disse ali, no meio do aeroporto, que estava grávida e
iriam se casar dali a alguns meses.
- Fala alguma coisa, pai! –
Ela me olhava.
- Eu não esperava...Mas
gostei! –Sorri e um sorriso largo apareceu em seus lábios também. – Sempre
sonhei em ser avô, tenho certeza que serão felizes! – Ela me abraçou forte e
logo todo mundo entrou naquele abraço.
Fomos direto para a chácara,
onde toda família se reunia como sempre e o noivo de Nathalia, Cássio, já se
enturmava com nossa família e fazia todos rirem com seu português enrolado.
- Ah gente! Considerem! Ele
tá a meses fazendo aulas de português só pra falar com vocês! – Minha filha fez
bico e eu beijei seu rosto.
- Tá indo bem! – Ri pra ele,
que retribuiu.
Estava gostando dele, parecia
um rapaz bom e de família, minha filha seria feliz ao seu lado.
Passamos dias ótimos e
felizes na minha chácara, lotada das pessoas que amo.
No último dia nosso ali, eu
acordei já bem tarde, vi que alguns estavam na piscina, como minha irmã, outras
na cozinha, como meus pais, mas fui atrás dos meus filhos e da minha mulher.
- E vocês nunca sentiram
medo? – Nathalia, seu noivo e seus irmãos, estavam sentados na grama e Isabella
em uma cadeira. Sorrindo como sempre.
Sempre linda também,
simpática e parecia que o tempo só fazia melhorar seu humor.
Parei pra ouvir o que falavam
e não interrompi.
- Claro que sim! Éramos
jovens, meu pai era rígido, tio Amarildo e Tia Marizete, muito família e minha
mãe fazia tudo que meu pai mandava.
- As vezes eu nem acredito na
história de vocês!
- (risos) As vezes nem eu!
- Mas você perdoou o vovô e a
vovó mesmo, mãe? – Agora foi a vez de Luna perguntar.
Linda e grande com seus 14
anos, sempre queria estar por dentro de tudo que sua tia e sua mãe falavam e
muito vaidosa.
- Perdoei, meu amor! A vida é
assim, eu sempre os amei e sempre vou amar! Claro que perdoei! – Ela sorria.
Breno me viu e logo me
gritou, não teve mais jeito, tive que me juntar a eles.
( ... )
Enfim o filho de Nathalia já
tinha nascido e nós fomos ansiosos para sua casa, ficar alguns meses com ela,
matar toda saudade dela e de um bebezinho.
No outro dia, Bruna apareceu
com seu marido, Ricardo, seu filho Thiago e nossos pais.
Ficaram menos que a gente, um
mês, mas já foi o suficiente. A casa lotada e alegre, como Nathalia sempre
dizia.
Acordei depois de todo mundo,
como sempre, dois meses depois que já estávamos lá, meus pais já tinham ido,
mas Bruna ainda continuava lá com meu sobrinho, Ricardo também já tinha ido,
trabalhava na área de engenharia.
Fui andando pelo corredor e
pelo silêncio da casa Nathalia curtia Stella, nossa netinha e seu noivo já
estaria na faculdade.
Andei mais um pouco e Vi
Isabella parada, parecia escondida, escutando alguma coisa.
- O que você tá fazendo? –
Ela deu um pulo, me fazendo ri.
- Shiu! Quero escutar! – Me
calei e fui ver o que ela tanto queria escutar.
Luna e Thiago, estavam
sentados no chão, um filme passava na TV, mas eles conversavam.
- Eu te amo! – Ele me
surpreendeu com aquela frase e a abraçou.
Luna, retribuiu o abraço dele
e assim que se soltaram, sorriam felizes.
- Eu que te amo!
- Vamos ficar juntos igual o
tio Luan e a tia Isabella? – Eles riram.
- Eu acho que sim! Minha mãe
sempre diz que quando o amor é verdadeiro, começa desde cedo!
- É verdadeiro! – Ele disse
firme e a puxou pra outro abraço.
- Isso te lembra algo? –
Isabella me olhou sorrindo e eu abri um pequeno sorriso também.
- Pois é...Me lembra!
- Você vai ficar bravo com
eles?
- E eles sofrerem tudo que
nós sofremos? Claro que não!
- Será que sempre vai ser
assim? Tá no nosso sangue os primos se apaixonarem? – Ela fez careta.
- Acho que não! – Fui
sincero. – Acho que acaba neles.
- Tomara! Não quero nossa
família sofrendo preconceito!
- Você não muda, não é, amor?
Ainda liga pra isso? – E lhe abracei.
- (risos) Ligo! – Ela colocou
seu braços em volta do meu pescoço e me olhou nos olhos.
- Eu te amo! – Sussurrei.
- Eu te amo! – Ela retribuiu
e eu sorri.
Fui lhe beijar mas ela
desviou, me deixando sem entender.
- O que?
- Olha ali! – Ela apontou pra
onde Luna e Thiago estavam e ele se beijavam.
Não um beijo, como eu e Isa
já dávamos naquela idade, mas só um selinho. Eram tão comportados, estudiosos,
gostavam de tudo certinho.
Sorri pra ela e acariciei seu
rosto, antes de lhe beijar.
Lhe beijar por nós e por aquele
casal que mesmo muito jovens, não julgávamos, pois já tínhamos sentido na pele
tudo aquilo.
O preconceito é sempre
grande, tem gente que não aceita e até tem um pouco de razão. Acredito que as
famílias são para se juntarem com outras famílias, mas ninguém manda no
coração, todo mundo tá sujeito a tudo e quando o amor bate na nossa porta, não
tem como mandar ele ir embora, não tem como expulsar ele a vassouradas.
O amor é uma coisa pura, não
é nenhuma coisa do mal, nãos faz mal a ninguém quando é saudável e verdadeiro,
é só...Amor!
The end
Manoela
Ribeiro.