sexta-feira, 30 de maio de 2014

Capítulo 39


*
Acordei em mais um dia feliz, estava bem humorado. Iria fazer um show na minha cidade natal, Campo Grande e logo depois teria uma semana de folga. Iria ficar por lá com meus parentes, que eu não via há algum tempo.
Depois que voltei da academia e tomei um banho, me deitei de novo e quando peguei no sono, sonhei com Isabella.
Confesso que fazia algum tempo que eu não pensava nela, eu tinha resolvido que seguiria a minha vida, que aquilo nunca daria certo.
Mas sonhei com ela naquela noite, ainda éramos adolescentes, mas namorávamos e éramos felizes. Ela me acompanhava em shows também.
Eu não sei o que me deu naquele dia, que fiquei o tempo todo pensando no sonho e sua imagem, mesmo novinha, já que nunca mais tinha a visto, não saia da minha mente.
Nós tínhamos fotos juntos,mas minha mãe escondia. No começo fiquei bravo, mas depois entendi quando me falou que não queria que eu sofresse ainda mais.
Me atrasei o dia todo e só pude ir para minha cidade à noite.
Ou seja, tive que ir direto fazer o show e só de madrugada fui para a casa dos meus avós. Bruna já estava lá e a maioria da família, só meus pais que chegariam pela manhã.
Me despedi do pessoal e entrei tentando fazer o mínimo barulho possível. Fui em direção à cozinha, beber água e vi que a luz estava acesa.
Assim que me aproximei, vi uma moça com o rosto dentro da geladeira, com uma camisola um pouco ousada e seus cabelos gigantes, na cintura.
Quando ela se virou, se assustou e quase deixou seu copo com água cair no chão.
- Desculpa te assustar...- Falei sem jeito, sem tirar os olhos dela.
Era muito bonita, prendia a atenção de qualquer um e aquele olhar, eu conhecia de algum lugar. Ela também me olhava curiosa.
- Que isso...- Foi tudo que ela disse.
- Eu...Te conheço de algum lugar. – Disse sem jeito.
- É...Luan? – Estreitei os olhos, enquanto lhe observava calado.
– Hã...Isabella. – Ela esticou sua mão para que eu pegasse e eu não acreditei no que ouvia.
Não podia ser a Isabella, a minha Isa. Minha prima. Não podia.

*

Assim que cheguei no Brasil, em São Paulo, peguei um outro avião para o Mato Grosso do Sul e como combinei com Camila por dias, nos encontramos no aeroporto.
Ela estava tão linda, que nem parecia que eu tinha a visto pequenininha.
Lhe reparei bem e até me atrevia a dizer, que era um pouco parecida comigo.
Pegamos um táxi e ela deu o endereço da casa dos nossos avós.
- A casa tá cheia. – Ela me contava no caminho,
- Sério?
- Tem show hoje aqui e todo mundo veio matar a saudade.
- Show? – Não entendi e ela me olhou estranho.
- Vai dizer que não sabe? – Camila riu. Continuei com minha expressão confusa. – Em que mundo vivia? Sei que morava em Boston, mas não via notícias sobre o Brasil?
- Não. Estudava demais. – Respondi em poucas palavras para evitar as perguntas.
Não queria que minhas primas soubessem o que eu estava passando em Boston.
- Então, depois eu te explico. – Ela mal acabou de falar e o táxi parou na frente de uma casa simples, porém enorme.
Paguei, depois de quase ter uma briga com Camila e só então entramos.
Estava nervosa, mas passou assim que minha prima gritou por todos. Primeiro, meus outros primos apareceram e ela me “apresentou” para eles, que me abraçavam e gritavam sem parar. Alguns não lembravam de mim, como Matheus, que era só um bebê, Amanda e Dani, também. Mas Jéssica e Jhenyffer, lembravam perfeitamente de mim, já que eram da minha idade.
Ouvimos mais um grito e junto dele, uma moça loira se aproximar. Ela tinha um sorriso gigante e muito bonito, ela era bonita.
- O que houve aqui? O que eu perdi ? – Sua voz era de criança.
Nós rimos de seu jeito engraçado.
Então Camila falou que eu estava de volta, assim como tinha falado para os outros e seu olhar se encontrou com o meu. – Isabella? Você não se lembra de mim? Bruna... – Ela se aproximou tão rápido e me abraçou apertado.
Não acreditei que aquela era a minha Bruninha, que eu pegava no colo assim que nasceu.
- Bruninha? Nossa, você cresceu demais! – Ela estava do meu tamanho. – Tá loira... Ainda lembra de mim?
- E você ainda pergunta? É lógico que eu lembro! – Ela voltou a me abraçar.
Então fomos para o lado de fora da casa, onde os outros mais velhos faziam um churrasco.
Eles chegaram gritando e me arrastando junto. Minha avó não teve dúvidas de que era eu, assim que seus olhos bateram em mim. Se levantou rápido de onde estava e veio ao meu encontro, me abraçando.
- Como me reconheceu, vó ? Falaram tanto que eu mudei... – Ri, enquanto já abraçava meu avô.
- Pode não acreditar, mas eu era assim, igual a você quando jovem. – Rimos.
Eu acreditava nela, via suas fotos antigas.
Depois de me sentar e me encherem de comidas, começaram as perguntas. Eu respondia tudo que podia, e na parte do porque fui embora, só falava dos estudos. Minha avó me olhava, só ela, meu avô e Glória, que sabiam de tudo. Fora meus pais e de Luan, claro. Nem Bruninha ficou sabendo de nada e era melhor daquele jeito mesmo.
Depois as meninas cismaram em fazer uma twitcam, que até então eu nem sabia o que era e eles riam de mim, e diziam que eu estava morando em marte. Era quase aquilo mesmo.
Elas fizeram tudo e até falaram de mim, eu só não quis aparecer. Mas disseram que uma prima que não viam há anos, voltou e disseram meu nome também.
Glória me chamou em um momento e eu lhe acompanhei até um quarto vazio.
- Saudades, Gogó! – Lhe abraçava forte, enquanto ela sorria.
- Também estava, menina. – Me puxou para sentarmos na cama e assim eu fiz.
Começamos a conversar, até que ela tocou no assunto que eu não queria e tinha receio em falar. Eu e Luan.
Ela disse que era a única prima que sabia de tudo, que não queria que fosse daquele jeito, que não precisava daquilo tudo. Não me agüentei e deixei as lágrimas caírem.
- E você...Sabe de tudo que se passa aqui? – Ela mudou o assunto, depois de muito falarmos e eu neguei, enquanto secava as lágrimas.
- Não sei. Como eu te contei, meu pai não deixava eu ver nada relacionado com o Brasil, eu só estudava.
- Pois eu vou te contar. Você não quer saber do Luan? Não perguntou dele...
- Eu...Só estou com receio, quero muito saber dele. Pra falar a verdade, pensei que estivesse aqui.
-Ele quase não pode comparecer nos churrascos de família, quase não o vemos mais...
- Por que? – Me assustei.
- Agora ele é um cantor muito famoso. O Brasil inteiro o conhece e ele vive nas estradas, levando seu show.
- Tá brincando, Gogó!
- Não to! Estamos todos aqui hoje, porque ele tem um show aqui. Na madrugada vem pra cá e amanhã faremos um churrasco com ele. – Ela sorriu animada e orgulhosa.
- O sonho dele se realizou? Eu tô muito feliz e ainda sem acreditar... – Rimos.
Então ela me provou, tirou seu celular do bolso e colocou no google o nome “Luan Santana”. Eu nunca imaginei que encontraria tanta coisa com o meu sobrenome no google. Falava tudo sobre o Luan, suas manias, seus gostos e até os nomes dos nossos parentes, as fãs sabiam.
Era um carinho tão grande, que a ficha estava custando a cair, que meu primo era amado pela metade do Brasil. Que tinha milhares de fã clubes.
Antes de sairmos do quarto, minha avó entrou ali e me deu um outro abraço materno. Glória nos deixou a sós e mais uma vez eu chorei, lhe contando tudo de novo.
Ela chorava comigo, tadinha, e disse que não iria mais deixar que aquilo acontecesse comigo. Depois de muito conversarmos, enfim saímos dali e eu me juntei com  os outros primos.
A “farra” rolou até a noite, mas fomos dormir cedo por conta do cansaço, principalmente eu.
Dormir com Camila, no antigo quarto de Jheny, que agora era dela, já que sua irmã estava casada e morando em outra casa. A cama era de casal e vovó preferiu daquele jeito.
“Depois do resultado dos meus exames, dona Estela aparentava estar muito preocupada, eu lhe perguntava o que era, mas ela dizia que depois me contava.
Até que meus pais apareceram por lá, a única vez que foram para aquela república.
Me enganei quando pensei que era somente para me ver e me assustei quando fui chamada aos gritos. Sorte que os outros tinham ido para a aula e só eu tinha ficado, a pedido de dona Estela.
- Como você foi tão irresponsável? – Meu pai gritava. – Você tem noção ? É uma criança. Como pode já transar com essa idade? – Arregalei os olhos.
- Do que estão falando?
- Disso, Isabella! – Minha mãe jogou um papel em mim, chorando.
Quando abri e li, não acreditei no que estava escrito e as lágrimas já brotaram dos meus olhos.
- Agora você chora ? Na hora foi bom, não foi ? E agora? – A voz do meu pai não parava. Eu me desesperei e desmaiei.
Acordei em um hospital e com o médico falando que eu precisava de muito repouso e o máximo que poderia fazer era ir para a escola.
Eu não sabia o que dizer, o que pensar. Eu estava grávida e perdida. “
Acordei suando e chorando, sorte que Camila tinha o sono pesado.
Me lembrei daquele dia horroroso e me desesperei só de pensar que meus pesadelos, que não vinham há algum tempo, estavam voltando para me atormentar. Os pesadelos do meu passado, que não era tão distante assim, estavam de volta.
Me levantei rápido e fui para cozinha, precisava urgente de um copo com água.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Capítulo 38


Helen me acolheu com o maior carinho como sempre e até o táxi pagou, eu estava sem nenhum centavo.
Seus pais estavam fazendo uma viagem e nós ficamos mais à vontade, pude chorar em seu colo a vontade.
Tomei um banho no final da tarde e fomos ver tv, comendo um doce ótimo, que sua empregada fazia.
- Pensa pelo lado bom, amiga. Você tá livre! – Ela tentava me animar.
Sorri sem mostrar os dentes, já que estava com a boca cheia.
- Mas são meus pais... – Suspirei.
- Eu sei o quanto isso deve ser difícil, meus pais são muito importante pra mim também. Mas isso era injusto com você, que é uma filha de ouro. Minha mãe vive dizendo isso.
- (risos) Que bom que ela pensa assim. Mas tudo bem, vamos parar de pensar nisso...Agora tenho que me preocupar onde vou morar.
- Como onde? Aqui, ué. – Ela falou de um modo engraçado, que me fez ri.
- Não posso ficar aqui te perturbando e nem quero. Vou voltar pro Brasil.
- O que ? – Helen gritou.
- (risos) Quero reencontrar minha família, agora que estou sem meus pais. – Fiz careta.
- Quer encontrar o Luan, você quis dizer... – Ela riu, me contagiando.
- Também...Demais! – Confessei suspirando.
- Ainda é apaixonada por ele.
- E nunca neguei! Quero arrumar um emprego por lá, não sei...
- Eu tive uma idéia.
- O que?
- Eu vou ir pra lá com você, podemos morar juntas! – Ela bateu palmas animada.
- Não sei se seus pais vão deixar e se for só por minha causa...
- Para agora! Os meus pais já me disseram uma vez que não ligam se eu quiser ir para lá. Meu pai tem um amigo dono de hospital até, pode nos arranjar emprego e eu também quero conhecer o Brasil.
- Sério?
- Tô falando sério, sua boba. Me lembro que ele disse que o hospital ficava no... – Ela parou para pensar. – No Rio de Janeiro! – Sorrimos e ela me abraçou.
No outro dia, os pais de Helen chegaram e nós fomos conversar com eles sobre aquilo tudo.
Realmente tinham um conhecido do Rio de Janeiro, que era dono de um grande hospital, em Botafogo.
No final, deu tudo certo, o pai da minha amiga também se animou com a idéia e já ligou para uma imobiliária brasileira para irmos comprar um apartamento.
Estava muito feliz, iria morar com a minha melhor amiga, e voltar para o Brasil.
No final da tarde, seguimos para a tal imobiliária e depois de vermos muitas fotos, apostamos em um apartamento lindo, na Barra da Tijuca, em um condomínio de luxo que ficava menos de cinco minutos da praia.
Eu insisti para ajudar no pagamento,mais tio Ronaldo, pai de Helen, não deixou de jeito nenhum.
Naquele mesmo dia, Helen cismou de entrar na Internet e tentar achar uma de minhas primas. Depois de horas procurando em facebook, twitter e todas as redes sócias que existiam, encontrei uma Camila, que só poderia ser a minha prima.
Era muito parecida de quando era menor, tinha o mesmo sobrenome, só podia ser ela. Mas estava linda, uma mulher, me espantei.
Fiz um instagram para mim, coloquei apenas uma foto e comecei a segui-la.
- E agora? – Perguntei a Helen.
- É só esperar e torcer para que ela veja os novos seguidores o seu nome e abra sua foto. Não pode colocar “Oi Camila, sou sua prima, lembra?” – Ela fez uma voz engraçada me fazendo ri.
- Será que tenho essa sorte?
- Tenho certeza! – Fiz careta.
- Ela tem tantos seguidores. – Mudei o assunto e Helen assentiu.
- Parece modelo... – Ela deu de ombros.
- Vai ver é. – Ri.
Nem abrimos suas fotos, vimos tudo pequeno mesmo e logo saímos.
Passamos aquele dia na piscina e comendo besteiras.
O celular de Helen apitou no meio da noite e ela deu um pulo da cama, me assustei.
- O que foi?
- Você não vai acreditar! A Camila te seguiu e ainda deixou um número de celular, deve ser dela.
- Tá falando sério? – Me levantei e peguei o celular de suas mãos.
Realmente aquilo tinha acontecido.  – Nossa, como ela dá assim o número do celular?
- A sua conta é trancada.
- Ah é! – Me lembrei. – Mas como ela tem certeza que sou eu?
- Às vezes ela não tem mas tentou a sorte. – Helen deu de ombros.
Tomei coragem e liguei para o número que estava no comentário da minha foto.
Assim que ela atendeu, eu fiquei muito tensa, mas logo me identifiquei e Camila gritou como louca.
Conversamos tanto e segurei para não chorar. Ela me perguntava o por que do sumiço e eu mentia, dizendo que era para os estudos, mas já estava formada e voltando.
Ela surtou, quando eu disse aquelas palavras. Pedi para que não falasse nada com nossos avós, iria ir vê-los, assim que chegasse lá, queria fazer surpresa.
Ela concordou na hora e já me passou o endereço em que moravam, em Campo Grande-MS.
Falamos muito, mas eu logo me dei conta que estava no celular de Helen e gastando muito. Me despedi dela.
- Mas antes, Isa. Me manda uma foto sua? Eu posso falar só pros meus pais que você vem?
- Pode...Fala com eles e mande um beijo para suas irmãs também. Vou passar por sms.
- Está bem! Estou te esperando ansiosa. Te encontro no aeroporto.
- Pode deixar, Camila. Eu te falo o dia que embarco... – Enfim desliguei.
Estava tão feliz, que não cabia no meu coração. Logo me lembrei do pedido da minha prima e lhe enviei uma foto, do meu celular. Que tinha tirado em um dos raros momentos em que sai para passear, pelas ruas lindas de Boston, com Helen.


Acabamos de resolver as coisas e enfim minha viajem estava marcada para há outra semana. Iria primeiro, passaria alguns dia em Campo Grande e depois Helen embarcaria para o Rio e enfim, iriamos para o nosso apartamento.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Capítulo 37


1 ano depois... (Janeiro de 2014)

Eu achando que no ano que tinha se passado, iria me “livrar” de tudo aquilo. Por mais que me doesse usar essa palavra, era aquilo que eu queria. Me livrar de tudo.
Mesmo sendo meus pais, não me entendiam, não me davam um voto de confiança, mesmo tendo idade e maturidade o bastante, mas eles ainda achavam que era aquela menininha de 16 anos, que saiu quase fugida de Maringá.
Tanto fizeram, que me convenceram a namorar Paulo e eu estava os suportando por um ano. Minha amiga ficava revoltada, já que não gostava dele de jeito nenhum e mesmo podendo bater o pé e dizer não, mais uma vez eu fiz o que meus pais queriam.
Paulo era o tipo de cara que desconfiei no começo. Galinha, cafajeste, que gostava de me exibir para seus amigos, como um troféu. A única parte boa, era que eu saia bastante com ele, não agüentava ficar mais trancada em casa.
Naquele ano que finalmente decidir dá um basta na minha vida, jogar tudo pro alto, sem me importar no que meus pais iriam pensar e como iriam reagir, já que esse era o meu maior medo. Eles viam que não era aquilo que eu queria pra mim e mesmo assim me “obrigavam” a fazer coisas que eu não queria. Eu tinha que fazer tudo que eles queriam. Tudo, por um amor, que sempre existiu no meu peito.
Que tinha tudo pra dar certo, com o melhor garoto que já conheci. Tudo porque ele era o meu primo, sangue do meu sangue.
Na noite que resolvi tomar a primeira iniciativa e acabar com a minha “relação” com Paulo, fomos para uma boate mais calma, de luxo, que a musica tocava até mais baixa no local. Mesmo contra minha vontade, queria um lugar reservado.
- Eu quero falar com você, Paulo. – Falei alto, perto de seu ouvido, pela décima vez e mais uma vez ele me ignorou, me fazendo bufar.
Alguns de seus amigos se aproximaram de nós e eles começaram a conversar e Paulo a beber.
Se afastou de mim uma hora e ficou quase uma hora longe. Fiquei parada e com cara de taxo.
Sabia que ele me “traia” direto, mas eu não ligava. Não gostava nenhum pouco dele, o namorava praticamente obrigada e nem considerava aquilo uma traição.
Quando ele se aproximou de novo, estava completamente bêbado e sobrou para eu dirigir o carro até seu apartamento. Morava sozinho em um condomínio luxuoso.
Lhe levei até o quarto com muito custo e ele quis tomar um banho, lhe deixei no banheiro e voltei para seu quarto.
Me sentei na cama e fiquei lhe esperando. Já tínhamos transado, duas vezes.
Uma quando o cachorro me embebedou de propósito e me levou pra cama. Nos filmou só pra me mostrar no outro dia, o que eu tinha feito com ele. Realmente eu estava muito maluca, selvagem, horrível. Graças a Deus ele apagou aquele vídeo logo, era só pra me mostrar mesmo.
Na segunda vez, ele quem estava bêbado, ele ficava bêbado quase sempre e muito fácil.
Praticamente me obrigou a ir para cama com ele e no outro dia, eu passei trancada no meu quarto chorando e mesmo depois de falar com minha mãe o que tinha acontecido, ela disse que não podia fazer nada e que não era para eu falar com meu pai, porque ele gostava do Paulo e não queria decepcioná-lo.
Eu não contei, sabia que não iria dar em nada mesmo, ele também não se importaria.
Ouvi o barulho da porta do banheiro se abrindo e olhei Paulo saindo de lá.
Cambaleava e quando levantou seu olhar, tinha os olhos vermelhos, mas não estava daquele jeito quando lhe deixei ali. Estranhei.
Ele se aproximou e eu me levantei, ele agarrou minha cintura com uma mão e virou seu rosto pra me beijar. Virei o rosto.
- Para com isso...Vai dormir. Amanhã conversamos porque você está bêbado. – Tentava sair de seus braços em vão.
- Eu quero você hoje, a noite toda! – Ele falava com uma voz tão nojenta.
- Me solta!
- Não solto! – Ele disse com um olhar estranho demais, que me deu medo.
Não iria deixar que me obrigasse a me deitar com ele pela segunda vez.
Tentava sair de seus braços, desviar seus beijos, mas tudo em vão.
Até que ele se irritou com aquilo e me lançou com olhar de fúria, começou a pegar forte no meu braço e disse que eu seria dele de qualquer jeito.
Ele apertava meu braço forte, minha cintura e só consegui me livrar de seus braços e ver que realmente aquilo estava sério, quando ele apertou meu pescoço.
Quase perdi o ar, mas lhe dei um chute no meio das pernas e sai correndo, lhe deixando caído no chão.
Passei pela sala correndo, mas meus olhos viram um pó branco em cima da televisão, que eu não tinha enxergado quando tinha chegado.
Me aproximei e mesmo com medo de que ele se levantasse e fosse atrás de mim, fui ver o que aquilo era. Coloquei a mão e não acreditei.
Era droga, por isso o comportamento dele mais que estranho nas baladas e nossas saídas. Ele sóbrio, era cafajeste, mas quando bebia e com certeza misturava tudo, ficava agressivo, seus olhos vermelhos e sem noção de nada. Eu já devia imaginar.
Peguei um táxi e fui chorando até em casa.
Troquei sms com Helen no caminho contando tudo.
“ Você vai denunciar, não é?” – Ela me perguntava.
“ Não, amiga...Eu pensei muito e não vou.”
“ O que? Tá louca? Ele tentou te bater, já te forçou a se deitar com ele, usa drogas e você vai deixar por isso mesmo?”
“ Eu sei disso tudo, mas eu trabalho ou trabalhava no hospital do pai dele, que é tão gentil e gosta de mim, eu também gosto dele. Não quero um escândalo. “
“ Você que sabe, mas isso está errado!” – Eu sabia que estava errado deixar tudo passar em branco, mas não faria nada por seu Sérgio, que era um encanto de pessoa.
Assim que cheguei em casa criei coragem e aquela iria ser a hora que eu ia jogar tudo para o alto. Tinha cansado.
Assim que entrei em casa, meus pais estavam vendo tv, respirei fundo.
- Isabella? Cadê o Paulo? Por que esses olhos vermelhos?- Minha mãe foi a primeira a dizer.
- Eu preciso falar uma coisa muito séria com vocês... – Suspirei.
- Diz.
- Eu...Terminei com o Paulo.
- O que? – Meu pai quase gritou. - Voltei a chorar.
- Eu terminei com o Paulo. Além de não gostar dele, me fazia coisas ruins. Ele é galinha, não gosto de homem assim, eu descobri que ele usa drogas agora pouco. Tive que sair correndo do apartamento porque estava tentando me bater. – Eu falei tudo de uma vez, desesperada.
- Eu não acredito nisso...
- É claro que o senhor não acredita. O senhor não acredita mais em mim, não gosta mais de mim do mesmo jeito, não fala direito comigo há anos.
- Isabella... – Minha mãe me olhou espantada por eu estar enfrentando meu pai.
- É isso mesmo, eu cansei!
- Me respeita, garota. Eu que me virei pra te criar com tudo que queria, pra te dar um futuro bom, pra te formar em médica e foi isso que eu fiz. Consegui te fazer médica, coisa que era quase impossível.
- Eu não pedi nada para o senhor, muito pelo contrário. Eu não queria vir pra cá.
Mas porque mesmo eu vim? Por que eu amava meu primo? Porque eu ainda sou apaixonada por ele e isso nunca vai mudar! Nem o senhor, nem o tempo, nem ninguém vai me fazer parar de amar o Luan! – Comecei a me alterar e ele se levantou.
- Eu já disse que esse nome é proibido aqui dentro dessa casa...
- Eu falo o nome dele, porque ele é o meu amor. Luan, eu amo o Luan mais que tudo!
O senhor disse isso e eu lhe obedeci porque era de menor, porque era dependente de vocês. Mas agora... – Antes mesmo de terminar minha frase, senti o meu rosto arder e só então percebi que tinha levado um belo tapa na cara. – Mas agora... – Continuei a falar mais baixo.- Eu sou independente e tô me dando liberdade. Não quero mais ser uma boneca que vocês podem mandar e desmandar a hora que quiserem. Eu sou uma mulher!
- E vai pra onde?
- Eu não sei...Mas aqui eu não fico mais!
- Então vai, Isabella. Vai e esquece que tem pais. Se vira nesse mundo, você não é uma mulher ? Se vira! Agora eu que não te quero mais nessa casa! – Subi as escadas correndo e joguei tudo que era meu dentro de quatro malas.
Queria pegar tudo mesmo. Liguei para um táxi e quando estava descendo, minha mãe chorava no sofá, mas meu pai continuava com sua expressão séria e fria.
Sai dali aos prantos, sem falar nem mais uma palavra.
O meu táxi chegou e eu dei o primeiro endereço que veio na cabeça. 
A casa de Helen, que ficava muito perto dali.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Capítulo 36



- Parabéns pela formatura! Seu pai está orgulhoso. – Ele riu.
- Obrigada! E você...Faz o que? – Queria puxar assunto.
- Sou médico cardiologista. Também trabalho no hospital.
- Nunca te vi por lá...
- È que eu vou no período da manhã. Mas já fui um dia à noite e te vi de longe.
- Entendi. Eu não te vi.
- Estava distraída.
- Quantos anos tem?
- Tenho 25 e você?
- Tenho 22, pensei que era da minha idade. Aparenta ser mais novo.
- Nossa, obrigado por isso! – Rimos.
Começamos a conversar e ele tinha um papo bom, me fazia ri e eu gostava daquilo.
Lhe perguntei como ele e seu pai conheceram o meu e ele disse que foi por acaso.
Eles visitavam a empresa que meu pai trabalhava, se encontraram, se deram bem e logo já jantaram em um restaurante. Logo depois, meu pai os convidou para ir a nossa casa.
- Eu nem sabia que ele tinha uma filha que trabalha no nosso hospital, nos contou um pouco antes de chegar. (risos) Nunca imaginei também, que ela era a menina bonita que eu vi de longe. – Fiquei vermelha e ele percebeu. – Eu te procurei no outro dia, sabia?
- Procurou?
- É...Rodei o hospital pela manhã, mas não te achei. Depois fui na recepção e me informaram que você era estagiária e só trabalha meio período na parte da tarde. – Voltamos para minha casa e eu estava muito sem graça.
Paulo não parava de me elogiar, estava na cara que era tudo cantada.
Antes de entrarmos, ele segurou meu braço.
- O que? – O olhei e ele estava perto demais.
- Não mereço nada?
- Hã? – Me fiz de desentendida.
- Poxa, eu gostei tanto de você. Não gostou de mim?
- Gostei.
- Então...
- Não acho melhor. Meu pai também tem muito ciúmes de mim e acho que não gostaria de me ver beijando ninguém em frente nossa casa. – Fui direta.
- Ele sabe minhas intenções. Eu me encantei de verdade por você, desde o primeiro momento que te vi. E ele apóia.
- Apóia?
- É, eu quero ter algo sério com você.
- É muito cedo. A gente nem se conhece, eu nem gosto de você desse modo. – Disse irritada.
Eu não queria mesmo, apesar dele ser bonito e tudo que uma mulher gostaria. Eu nunca ia tirar o “outro’’ do meu coração.
Forcei meu braço, para que saísse de sua mão, mas fui em vão. Ele me puxou com tudo e me roubou um selinho, deu um sorriso malandro no final.
- Não faz mais isso. – Eu disse séria.
- Eu gosto de você de verdade, Isabella. É só me dar uma chance.
- Não precisa forçar tanto assim...
- Você não é fácil. Mas isso é bom, não gosto mesmo das fáceis. – O encarava sem saber o que falar.
Ele passou na minha frente e entrou na minha casa. Enquanto eu refletia sobre seu ultimo sorriso, que era de galanteador. Ele não estava mais aparentando ser a pessoa que se mostrou no começo, parecia um galinha.
Eu reparava bem as pessoas e ele parecia ser o tipo de cara que só era “perfeito” pra conquistar a mulher.
Bufei e entrei em casa.
O pai de Paulo já estava de saída e eu agradeci mentalmente por isso.
Nos despedimos deles e o abusado, ainda me deu um beijo no conto da boca.
Me joguei no sofá bufando.
- Isabella, antes de você entrar, Paulo disse que irá te levar para jantar amanhã.
- O que? – Tirei minhas mãos, que cobriam o meu rosto e lhe olhei assustada. – Eu não vou, não gostei do jeito dele. Parece que me quer como troféu.
- Eu não perguntei se quer ir, eu já confirmei sua presença e ele irá vir lhe buscar.
Não me interessa o jeito que ele te quer.
- O senhor não pensa em mim? Eu não quero nada com ele e o senhor já sabe o que ele quer.
- Você vai, ele é o dono do hospital em que trabalha.
- Pai! Isso tudo é interesse?
- Me respeita, garota ! E ponto final nesse assunto.
- Mas...
- Você me ouviu? – Ele me encarou e eu subi para o meu quarto.
Não estava acreditando no que estava acontecendo.
No outro dia, não precisei ir trabalhar, me deram uma merecida folga, que eu tirei o dia todo para dormir e por um milagre, o meu pai não apareceu para me encher nenhum segundo.
Mas quando deu 19:30 , me lembrou do bendito jantar que eu seria forçada a ir.
Me arrumei rápido, não fiz muita coisa. Coloquei uma saia simples que tinha no guarda roupas.
Por mim, iria de calça jeans, mas meu pai mandou eu ir apresentável. Não suportava eu com 22 anos, uma mulher feita, formada e trabalhando e ele me mandando, como uma criança de 13.
Entrei no carro de Paulo, assim que ele parou e me assustei, quando pegou em meu rosto com força e me forçou a selar os seus lábios.
- Você me assusta. – Eu disse baixo, mas para que escutasse mesmo.
- (risos) Que bom! – Lhe olhei de canto de olho,mas logo desviei suspirando.
Fomos em silêncio até o restaurante.
Nos sentamos em uma mesa reservada, no fundo, onde não tinha ninguém.
Ele mesmo fez o pedido, sem nem me perguntar se eu gostava de algo.
Um sem educação e metido a play boy.
- Me diz logo o que quer com esse jantar. – Eu falei, mal humorada.
- Eu quero você! – Ele sorriu de canto.
Era sexy, seu perfume era intenso, mas mesmo assim não me seduzia.
- Eu não quero nada com você...
- Para de se fazer de difícil, garota. – Não disse mais nada durante o jantar.
Ele também não disse e nós comemos em silêncio. A comida era muito boa.
Fomos embora depois da sobremesa, que eu repeti e quando o carro parou em um sinal vermelho, ele colocou sua mão em minha perna.
Olhei para ela e logo depois para seu rosto, que tinha um sorriso nos lábios.
Tirei sua mão dali e virei o rosto para janela.
- Eu gosto de você...
- Você já disse isso. – Disse, sem lhe olhar.
- Me dá uma chance, vai? Prometo que não vai se arrepender. – E assim foi durante todo o trajeto.
Paulo falava que queria uma chance, que não era do jeito que eu estava pensando.
Mas como ele sabia o que eu estava pensando? Estava desconfiada.
Acabou que no final da “nossa” noite, ele me roubou um beijo, mas não um selinho.
Um beijo de língua, que foi muito bom e eu só cedi, por pura carência.
Já estava cinco anos sem ninguém e mesmo sentindo que estava “traindo” Luan, eu me deixei levar. Ele deveria estar ficando com garotas no Brasil, claro.
Ele tinha um beijo selvagem e tinha uma pegada incrível, que levaria qualquer garota ao céu, mas pra mim, só foi bom.
Entrei em casa, sem lhe dizer “tchau” e meu pai me esperava, perguntando o que tinha acontecido.
Subi para o meu quarto e lhe deixei falando sozinho.
Estava me fazendo de troféu, por puro interesse e aquilo eu não admitia.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Capítulo 35



1 ano depois...(Janeiro de 2013)

Estava mais que feliz, apostando que daquele ano a minha felicidade não escaparia.
Estava de férias e no mês seguinte, seria a cerimônia e logo depois a nossa festa de formatura. Eu não estava acreditando, que já receberia meu diploma de médica.
Não posso dizer que passou rápido, porque pra mim, foi uma eternidade e durante cinco anos a minha vida estava na mesmice.
As minhas férias, também eram só estudos e trabalho. Durante um ano, estava estagiando em um dos melhores hospitais da cidade. Fui indicada como melhor aluna da sala e dali em diante, comecei a estagiar.
Mesmo sendo muito longe, do outro lado da cidade, eu ia a pé mesmo para o hospital. Saia no final da tarde e voltava no meio da noite. Ainda não fazia plantão por ser só estagiária, mas pra minha sorte também e por ter me dedicado muito, tinha recebido uma proposta de emprego, para quando acabasse a faculdade.
Meu pai estava pegando mais leve, já tinha me dado até um celular, mas ainda não deixava eu viver no “mundo” social, Internet.
Eu fazia faculdade durante a manhã, ia para o hospital à tarde e de madrugada, estudava muito. Eu não poderia dar um passo errado, já que meu pai estava gostando do rumo que minha vida estava levando.
Ainda só falava o necessário comigo, até em épocas especiais, como natal, ano novo e até mesmo no meu aniversário, seu abraço era frio. Eu sentia.
Aquilo me machucava, mas eu não podia fazer nada e já estava quase convencida que não conseguiria reverter àquela situação.
Meu estágio era remunerado, eu ganhava um dinheiro muito bom e guardava tudo no banco. Não tirava nenhum centavo, guardava tudo.
Já estava na minha cabeça, que quando eu estivesse como uma quantia boa em dinheiro, sairia de casa e voltaria correndo para o Brasil.
Claro que meus pais nem sonhavam com isso, mas também não desconfiavam do porque eu guardava todo o dinheiro. Eu dizia ser para o meu futuro, o que não era mentira, e eles não ligavam.
Acordei no dia da nossa festa de formatura, com meu celular tocando.
- O que foi, Helen ? – Eu dizia de mau humor, enquanto minha amiga gargalhava do outro lado.
- É hoje, amiga. Levanta logo, que nós vamos passar o dia no salão! – Ela falava tão empolgada para àquela hora da manhã, que me dava mais preguiça.
- Mas já? Tá louca?  E nem sei se meu pai vai deixar. – Fiz careta, mesmo ela não vendo.
- Há essa hora sim! E seu pai já deixou. Liguei pra ele, antes de te ligar. – Ela riu vitoriosa.
- Sério? – Me espantei.
- É sério. Ele tá feliz com sua formatura.
- É, é o sonho dele. Pelo menos ele tá feliz com alguma coisa que eu fiz. – Suspirei.
- Para de falar essas besteiras e se levanta logo. – Então fiz o que tanto me pedia.
Me arrumei rápido e não demorou muito para o carro luxuoso de Helen, buzinar em frente a minha casa.
Passamos o dia no salão de beleza e eu me diverti naquele dia, como a anos não sorria.
Fomos buscar nossos vestidos que já estavam alugados e depois de muito insistir novamente, meu pai deixou eu me arrumar na casa de Helen. Nos encontraríamos, já no salão que a festa seria realizada.
E depois de passar horas em frente ao espelho, me arrumando, como a anos não fazia. Finalmente coloquei o meu vestido perfeito, que a minha amiga deu muitos palpites, antes de comprá-lo.

- Amiga! Nunca te vi tão linda... – Helen falava, enquanto eu revirava os olhos.
- Quer dizer que sou feia? – Brinquei, enquanto ela gargalhava.
Era como de criança, sua risada.
- Não...Você sabe que é muito linda! – Ela me abraçou de lado e eu sorri.
Ela estava com seu vestido longo, também rosa, mas um rosa muito mais chamativo e “cheguei”. Era daquele jeito que ela gostava. Tinha que chamar a atenção por onde passava, com seus cabelos ombré hair, em um tom de castanho claro, lindo de morrer e seu bom gosto. Era criticada por isso também, mas era seu jeito.
Fomos com seus pais para a festa.
Rolou tanta coisa legal, tantas homenagens e os professores não paravam de me paparicar, o que me deixava com vergonha, mas feliz, por meu pai está gostando daquilo.
Voltamos para casa, já quase amanhecia.
No outro dia não tive descanso, fui trabalhar e ainda mais cedo. Tinham me ligado e pedido para substituir uma pediatra que estava doente. Mesmo morrendo de sono e cheia de olheiras, eu fui, claro.
Voltei para casa só à noite, depois de muito andar e doida por um bom banho e minha cama macia.
Parecia que o caminho estava ainda mais longo.
Apesar das ruas serem um pouco escuras, eu não tinha medo e era tudo muito calmo. No meio da caminho, tinha alguns seguranças, que tomavam conta de uma praça, o que me deixava mais tranqüila também.
Mas do mesmo jeito, eu andava quase tudo sozinha, mas aquela parte da cidade era tão tranqüila, que eu não tinha realmente, nenhum pingo de medo.
Assim que cheguei em casa, meu pai conversava com dois homens na sala.
Estranhei, por ele nunca ter levado amigos em casa e não ter me avisado, mas agi naturalmente e os cumprimentei com educação.
- Boa noite! – Sorri sem jeito.
- Filha...Vá tomar seu banho, se arrume e desça, que vamos jantar. – Meu pai sorriu de uma forma que não costumava. Pelo menos pra mim.
- Tudo bem! – Retribui e subi as escadas.
Estava tão cansada naquele dia e meu pai tinha que justo lhe escolher pra fazer um jantar.
Tomei um banho rápido, tentei dar um jeito no rosto com minhas maquiagens e coloquei um vestido simples,mas apresentável.
Eu jantei em silêncio e só sorria para os elogios, do homem mais velho.
Ele devia ter a idade do meu pai e outro deveria ter minha idade.
Tinha uma barba rala, seus cabelos impecavelmente arrumados e sua roupa também. Uma camisa social, calça jeans e um tênis estiloso e de marca.
Ele não parava de me olhar e eu desviava seu olhar, para não ficar vermelha.
Estava um pouco incomodada.
Depois de comermos a sobremesa, fomos para a sala, a pedido do meu pai, que era só risos.
- Não deve saber, Isa. Mas Sérgio...- Meu pai apontou para o homem mais velho. – é o dono do hospital que trabalha. – Fiquei muito surpresa com aquilo.
Não sabia que meu pai era amigo do dono do hospital.
- Nossa! Eu não sabia mesmo. – Sorri sem jeito. – È brasileiro?
- (risos) Sou sim. Tenho hospitais no Brasil também.
- Paulo, é seu filho. Vá mostrar a rua a ele. – Me espantei com aquela frase.
Meu pai não deixava eu sair sozinha, nem com amigas e estava falando para eu sair com um homem.
O rapaz sorriu simpático e eu retribui, enquanto assentia e me levantava.
Começamos a andar em silêncio, mas ele logo foi quebrado por Paulo.

domingo, 25 de maio de 2014

Capítulo 34


3 anos depois... (Fevereiro de 2012)

Uma crise de choro me invadiu, no meio da madrugada, onde eu estudava com mais de cinco livros grossos, em cima da cama.
A minha vida se resumia em livros da faculdade, que faltava só um ano para eu completá-la. E eu torcia para que os dias passassem voando.
Já sabia falar tudo em inglês e até pensava que mais alguns anos ali, eu esquecia completamente o português. Ainda tinham um pouco de mágoa, minha mãe nem tanto, mas como sempre, respeitava meu pai, que me tratava friamente e eu já estava ciente de que aquilo seria pelo resto da minha vida, nunca mais ele seria o mesmo. E com a única amiga de verdade, que fiz na faculdade.
No colégio, tinha me dado bem com todos, tinha colegas na faculdade, mas amiga mesmo, era só Helen. Que me animava, ou tentava, todos os dias.
Já sabia minha história de trás pra frente e às vezes até chorava comigo, ela era a garota mais sentimental que já conheci.
Seus pais e seu irmão mais velho, eram brasileiros, ela nasceu ali mesmo em Boston, mas praticava o português com sua família, que não perdeu as origens.
Uma crise de nostalgia me atacou, enquanto as lágrimas caiam dos meus olhos e a chuva do lado de fora da janela, apesar da noite linda e da claridade perfeita que a lua cheia trazia a sacada do meu quarto.
Passei mal por dias assim que cheguei na república. Eles ligavam para meus pais, que diziam que não era nada. Meu pai estava irritado com aquilo, eu ouvia a conversa de dona Estela com ele, atrás da porta. Com certeza sabia que era falta de Luan.
Ia pra escola do mesmo jeito e às vezes passava tão mal, a ponto de enxergar tudo embaçado no quadro e às vezes pensava que iria desmaiar a qualquer momento.
Depois de duas semanas daquele jeito, dona Estela não agüentou aquela situação e me levou para um hospital e só de lá, ligou para meus pais avisando.
Eu chorava sem parar, estava com um medo também, fora do comum.
O médico parecia um pouco assustado comigo e pediu alguns exames.
Até que depois de um dia, fui liberada dali e quando cheguei em casa, me sentei para conversar com dona Estela.
- Isa...Você não pode continuar desse jeito. O doutor disse que pode ser um início de depressão. Ainda é muito novinha... – Ela falava de uma maneira tão terna.
- Eu não consigo. É mais forte que eu ! Eu preciso dele aqui, perto de mim...
- Você vai encontrar alguém, mas se for pra ser com ele, pode ter certeza que se encontrarão no futuro. – Voltei a chorar desesperadamente e fui amparada por um abraço materno daquela senhora, que tinha um olhar muito preocupado.
Escutei ela falando com meu pai mais uma vez naquela noite e como estava no alto falante, ouvia tudo que ele falava.
Dizia que aquilo era coisa de adolescente mimada, que não era para ela ligar e que logo passava. Disse que era pra continuar com suas regras, de me fazer estudar muito e não me deixar sair, quando ela alegou que se eu saísse um pouquinho para tomar um ar, talvez pudesse ficar melhor.
Voltei pro quarto correndo e chorei, como todos os dias. Meu pai nunca iria me entender. Ele não via que eu estava sofrendo de verdade, ou não se importava, o que eu não queria acreditar.
Me assustei com um trovão no céu e estremeci.
Olhei para os livros no meu colo e suspirei, antes de limpar minhas lágrimas e voltar a lê-los. Ainda bem que eu me desligava de tudo, quando lia cada livro.
E apesar do meu pai quase me forçar a tudo aquilo, era aquela profissão que eu realmente queria pra mim.
No começo acreditava que Luan iria me buscar algum dia, mas depois entendi que aquilo não era mais possível e que apesar de tudo, eu realmente não poderia largar assim meus estudos. Eu tinha que ter como viver.
Era a aluna mais esforçada da sala de aula, era assim que eu preferia pensar, menos os professores e a diretora, que cismavam em dizer que eu era a mais inteligente. Todos, só por estarem ali, já eram inteligentes o bastante.
Tirava só notas altas e meu pai não permitia que caísse nenhum décimo se quer.
Já me deu um tapa na cara uma vez, por eu ter ficado doente, ter faltado à faculdade por uma semana e ter ficado quase na média. Ele pensava que aquilo era à volta, de uma “depressão” que o médio, um dia disse que eu tive.
E apesar de tudo, eu não acreditava, faltava pouco sim para aquilo acontecer, eu estava muito abatida.  Mas não estava com depressão, eu sabia a diferença em estar triste e com depressão. Pode não parecer, mas é bem diferente uma coisa da outra.
Naquele dia, ele cismou que eu estava voltando a pensar em Luan e por isso me bateu, como dá ultima vez, quando adolescente. A diferença, foi que não ficou marcas.
Acordei morrendo de sono no outro dia, era todo dia daquele jeito.
Estudava demais na madrugada e já tinha que ir pela manhã para a faculdade. Aliás, eu estudava o dia todo, sem exceção de segundos.
Encontrei com minha amiga no portão, ia a pé mesmo todos os dias, já que era bem perto da minha casa. Caminhava apenas alguns minutos. Poucos.
- Amiga, é hoje! – Ela sorria contente, enquanto me abraçava.
Helen, faria uma pequena comemoração de seu aniversário de vinte anos, em um restaurante. Ela era um pouco mais nova que eu, mas era adiantada na escola, conseqüentemente, na faculdade.
- É verdade, meu amor. Parabéns! – Ela vestia seu casaquinho rosa chok, sua blusinha rosa bebê, sua calça branca e seu scarpin, de ponta redonda, bege.
Era bem rica e só usava esse estilo, sempre com um rosa no meio. As pessoas lhe chamavam de patricinha, na língua deles, mas chamavam. Mas ela não se importava, eu sabia também que não era nada daquilo que falavam, alguns tinham era inveja por ela ser linda, inteligente, extrovertida, simpática e bem de vida.
No começo tive receio de me aproximar, exatamente por falarem “coisas” de Helen, mas depois, criei coragem e eu puxei assunto. E assim ela se soltou e viramos grandes amigas. Ela também se dava bem com muita gente dali, as que não falavam dela, alguns eram falsos e se aproximavam e depois falavam mal, mas dizia ela que lhe faltava uma amiga de verdade, ou seja: Eu.
Estávamos combinando a comemoração de seu aniversário há um mês e ela estava muito feliz.
O meu seria no outro mês e ela também já programava as coisas. Tagarelava no meu ouvido, depois da nossa aula. Morava perto de mim e voltávamos juntas para casa. Mas íamos separadas e eu nem entendia o porque.
- Você tem que ganhar um celular nesse aniversário. – Helen fez careta e eu ri.
- Meu pai prometeu... – Sorri confiante.
Meu pai era muito duro, e se eu não o amasse tanto e se não acreditasse tanto em seu amor por mim, poderia acreditar que estava vivendo em uma prisão, na minha própria casa.
Ele não deixava eu sair de verdade, muito mal ia à padaria comprar pão. Não tinha acesso a celular e muito menos computador, nenhuma rede social.
Fui uma vez só na casa de Helen, por seu pai ter ido à minha casa e implorado.
Eu o respeitava e minha amiga, me chamava de boba, afinal já iria fazer 21 anos. Mas eu o respeitava mesmo como uma menina de 15. Morava com eles, dependia deles pra praticamente tudo. Eu não tinha noção da vida sozinha, não poderia o desafiar e correr o risco de ser mandada embora de casa e ficar perdida no mundo.
Mas já estava com alguns planos na cabeça, que em um ano, já seriam realizados.
Só faltava aquilo para eu me formar. Quatro anos de faculdade concluídos. Valia a pena estudar triplicado.
Naquele dia, entreguei meu boletim para o meu pai, mas para minha surpresa, em uma matéria, tinha caído dois pontos meus. Eu não tinha o aberto, lhe entreguei fechado e confiante, que estaria tudo certo, como em todos os bimestres, mas não foi isso que aconteceu.
Mesmo a nota continuando alta, eu levei um castigo. Ele não me deixou ir a comemoração de aniversário da minha amiga, o que me causou choros.
Lhe implorei, já que tinha prometido e disse que minha nota, mesmo caindo dois pontos, ainda estava alta e a maior da turma. Só a matéria que tinha complicado um pouco e todos tinham abaixado suas notas.
Mas não adiantou, e ainda por conta da minha insistência, disse que não me daria mais um celular de presente de aniversário.
Liguei para Helen contando tudo e chorando. Pelo telefone fixo da casa.
Era sem fio e eu o levei para o meu quarto e me deitei na cama.
Minha amiga ficou tão triste quanto eu, pediu para falar com meu pai, mas de nada adiantou e no final, só disse que cancelaria tudo.